quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Mordidas: Agressividade ou Aprendizagem.

MORDIDAS: Agressividade ou Aprendizagem?



O primeiro contato da criança com o mundo é pela boca e morder faz parte dessa etapa.

Uma coisa muito comum nas turmas do berçário em creches, mas que costuma provocar muita preocupação dos pais são as mordidas. Principalmente no período de acolhimento, em que, além da maioria das crianças estar vivendo sua primeira experiência social extra-familiar, os grupos estão em fase de formação, de “primeiras impressões”, ou em situações de entrada de crianças novas, as mordidas quase sempre fazem parte da rotina diária das crianças. Não é fácil lidar com esta situação, tanto para os pais (é muito dolorido receber o filho com marcas de mordidas!), quanto para nós, educadores (que sempre nos sentimos impotentes, incapazes que somos, na maioria das vezes, de impedir que elas aconteçam).

As crianças pequenas geralmente mordem para conhecer. Para elas, tudo que as cerca é objeto de interesse e alvo de sua curiosidade, inclusive as sensações. O conceito de dor, por exemplo, é algo que vai sendo construído a partir de suas vivências pessoais e principalmente sociais, e não algo dado a priori. Mordendo o outro, a criança experimenta e investigam elementos físicos, como sua textura (as pessoas são duras? São moles? Rasgam? Quebram?), sua consistência, seu gosto, seu cheiro; elementos “sexuais” (no sentido mais amplo da palavra), na medida em que morder proporciona alívio para suas necessidades orais (nelas, a libido está basicamente colocada na boca) e ainda investigam elementos de ordem social, isto é, que efeitos que esta ação provoca no meio (o choro, o medo ou qualquer outra reação do colega, a reprovação do educador, etc.).

É claro que, vencida esta primeira etapa de investigação, algumas crianças podem persistir mordendo, seja para confirmar suas descobertas ou para “testar”o meio ambiente (disputa de poder, questionamentos de autoridade, etc.). Ou ainda, pode ser uma tentativa de defesa: ela facilmente descobre que morder é uma atitude drástica. Raramente a mordida é um ato de agressividade, e muito menos de violência. As crianças raramente querem simplesmente agredir, a não ser que estejam vivendo alguma situação de intenso stress emocional em que todos os demais recursos estejam esgotados.

Há “receitas”para obter mordidas, mas acabar com elas não. É importante saber: Seja qual for o fator que leve à mordida, é preciso muito cuidado para não rotular a criança como “mordedor” Quando se rotula uma criança, todos passam a esperar que ela volte a ter aquela reação. Mesmo que seja uma expectativa sutil, a criança percebe.

Na ocorrência de uma mordida, talvez o melhor seja tratar o fato com tranqüilidade. É importante esclarecer para a criança, a dor que se sente. Importante também é ajudá-la a encontrar outras formas de se comunicar. Mostrar possibilidade de expressar, através de fala e dos gestos, suas emoções.

Não devemos esquecer que tolerar as frustrações é um processo que vamos aprendendo ao longo da vida e que nesta etapa infantil encontra-se apenas no início. Além disso, em alguns, pode haver outros problemas relativos a superproteção, aos limites, aos cuidados e á educação dos quais a criança é submetida. É preciso compreender que esta é uma fase do desenvolvimento da criança. Praticamente todas as crianças, entre um e três anos, em algum momento, usaram ou usarão tal conduta. Esse recurso praticamente desaparece quando a linguagem estiver mais desenvolvida.

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